Formação de professores discute corporeidade e gênero

Tratar diferenças em sala de aula é desafio para educadores

O primeiro encontro do segundo módulo do curso de Formação Continuada Vivências Docentes teve como tema corporeidade e gênero e recebeu a Dra. em filosofia Patrícia Ketzer. A professora destacou que as pessoas se relacionam socialmente a partir de papéis que definem quem pode fazer o quê e que essa definição implica em sérias limitações.

“Tratar sobre gênero na escola não tem nada a ver com ensinar alguém a ser homossexual ou um menino a ser menina, até porque isso não é algo que pode ser ensinado. Um professor quando trabalha questões de gênero em sala de aula não trabalha mais do que questões de igualdade e respeito à diversidade,” esclarece a filósofa.

Patrícia afirma que desta forma as crianças vão crescer tendo um olhar diferenciado, sabendo que elas podem ser o que elas quiserem no sentido de que podem assumir qualquer posto na sociedade, cargo, profissão e se realizarem enquanto ser humano sem ter que cumprir determinados papéis de uma cultura que é retrograda e aprisionou mulheres em determinados lugares. No ambiente escolar a discriminação pode existir de maneiras naturalizadas – como por exemplo a divisão desigual do acesso aos esportes, quando os meninos têm mais dias e tempo na quadras, ou quando atividades são separadas de acordo com o gênero das crianças.

“É preciso um olhar para a diversidade para compreender que as pessoas que não se identificam com a heterossexualidade precisam ser respeitadas. É preciso uma compreensão de que algumas pessoas não se identificam com o corpo que nasceram, que isso não é uma patologia e a OMS inclusive já assumiu isso. Os professores precisam ter essa compreensão. É necessário saber identificar isso e trabalhar de maneira adequada com essas crianças e dar o apoio e o suporte necessário para elas e debater questões de gênero nos dá a possibilidade de que a criança identifique quando ela está, por exemplo, sofrendo um abuso dentro de casa,” aponta Patrícia.

Debater sexualidade permite que a criança identifique quando há algo errado, se ela está sendo tocada em lugares indevidos ou sendo tratada de maneira indevida, podendo assim pedir ajuda. Ao discutir estes assuntos com as crianças elas passam a ter entendimento de que algumas coisas são erradas e que elas podem procurar ajuda fora de casa quando dentro de casa algo não está bom.

Para Patrícia não falar sobre esses assuntos e torná-los tabu acarreta problemas, pois a criança não compreende que há algo errado e não consegue buscar ajuda. Salienta que essa distorção das coisas faz com que a pessoa guarde para si problemas que podem levar a traumas que se tornam irreparáveis.

A professora acredita que espaços de formação são fundamentais, principalmente pelo fato de o mundo estar em constante evolução e as pessoas precisam compreender estas transformações e que o mundo não vai voltar a ser como era antes. “Não dá para viver estagnado em um mundo que não aceita diferenças e impõe uma forma de vida retrógrada. Precisamos entender que as pessoas que hoje querem assumir sua sexualidade, se aceitar, viver felizes com as pessoas que amam e o mundo precisa compreender como isso se dá e se abrir para isso.”

Vivências Docentes

Idealizado pelas professoras Sindi Bones Bötker e Ana Lúcia Kapczinski e realizado pelo Sindicato dos Professores Municipais de Passo Fundo (CMP Sindicato), o curso Vivências Docentes fundamenta-se em torno das reflexões sobre a formação humana dos sujeitos da Educação Básica, com ênfase na constituição do “eu-docente” diante dos desafios que a escola pública apresenta. Parte da leitura do contexto amplo da sociedade que incidem nos modos de educar nos dias de hoje, discute sobre o cotidiano da sala de aula (no segundo momento) e finaliza com um olhar introspectivo acerca dos modos com os quais nos constituímos enquanto profissionais da educação.

Os módulos são oferecidos em dois semestres, com quatro atividades distribuídas em encontros mensais, a partir de quatro momentos. Inicialmente os participantes tomam conhecimento de um texto para leitura prévia, seguido da exposição do tema por parte das assessoras com utilização de recursos diversos, seguindo para a problematização do assunto de forma dialogada e finalizando com a sistematização com memória de cada encontro, a ser entregue no final do semestre, impresso ou por email. Em sua primeira edição o curso é direcionado somente aos professores da rede municipal de Passo Fundo.

 

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