Rumos da educação: candidatos falam sobre fortalecimento da escola pública

Parceria entre FAED e CMP Sindicato ouviu candidatos à Assembleia Legislativa

Na noite da última segunda-feira (18) os candidatos a deputado estadual pelo Rio Grande do Sul, vinculados ao município de Passo Fundo Airton Lângaro Dipp (PDT), Cacá Nedel (Podemos), Eduardo Peliciolli (Podemos), José Carlos Carles de Souza (PSD), Juliano Roso (PCdoB) e Mari dos Santos (PT) expuseram suas perspectivas sobre “Os rumos da educação no Rio Grande do Sul: realidades, perspectivas e projetos”.

O evento promovido pela Faculdade de Educação (Faed) e pelo Sindicato dos Professores Municipais de Passo Fundo (CMP Sindicato) reuniu estudantes de diversos cursos da universidade e comunidade em geral. A atividade foi realizada em três momentos e a ordem dos candidatos para abordar os temas foi definida por sorteio.

Confira as respostas dos candidatos no primeiro bloco:

Quais os caminhos concretos para o fortalecimento e a retomada da escola pública de qualidade?

Juliano Roso (PCdoB)

“Me arrependo de não ter fechado mais escolas. Essa é uma frase dita pelo atual Secretário de Educação do Rio Grande do Sul Ronald Krummenauer, um homem que defende o fim da escola pública, a privatização e o fechamento da escola pública. A pauta é como nós vamos pensar o futuro do ensino público quando temos um secretário que quer o fim do ensino público. […]

O objetivo desses caras que estão no MEC é acabar com a profissão do professor e transformar a educação em um balcão de negócios, como tem sido transformada a educação de nível superior que foi tomada pelas EAD’s sem nenhum critério. É contra isso que nós devemos nos posicionar. E em primeiro lugar a revogação da PEC 55 que congelou por 20 anos os recursos da educação no Brasil, esse é o nosso primeiro compromisso.

Nós do PCdoB temos o que mostrar, já que governador Flavio Dino (único governador do partido) paga o maior salário de um magistério estadual no Brasil. O governador que construiu e reformou 820 escolas em 3 anos e sete meses de governo no Maranhão, esse é o nosso paradigma.

Eu tive oportunidade como deputado estadual de entregar um relatório à Secretaria Estadual de Educação em que consta a visita que realizei fotografando e registrando pessoalmente as 28 escolas estaduais localizadas em Passo Fundo. Todas elas apresentam problemas de maior ou menor grau na sua infraestrutura. Nós temos que mudar e inverter a lógica aqui no RS, temos que parar de governar para a iniciativa privada e o estado tem que de fato governar para a escola pública, passando por uma ampla reforma e recuperação da estrutura das escolas, pela valorização dos professores, em primeiro lugar pagando em dia o salário do magistério. […]

Sou ainda o autor do projeto Escola Sem Mordaça, primeiro projeto no Brasil feito para combater esse absurdo que está sendo construído no país, que é o Escola Sem Partido.”

 

Cacá Nedel (Podemos)

“Agradeço a oportunidade de discutir educação, que na minha opinião sempre o tema mais importante a ser tratado em campanha eleitoral. Como educador, sou formado em história, conheço a realidade defendo uma educação emancipadora, porque acredito assim como Freire que só a educação liberta.

Busco uma educação pública, gratuita e de qualidade, que transforme os alunos em protagonistas das suas próprias histórias, reconhecedores de seus direitos. Respondendo sobre como valorizar a educação, ela passa no meu ponto de vista por duas questões muito fortes: a valorização do professor e a estrutura física.

Primeiramente a valorização do professor porque sem ele não há educação. Sem estrutura física é mais difícil, mas não é impossível. Eu pude participar e vivenciar isso, pois já estudei em instituição com estrutura melhor e em instituição com estrutura mais modesta e nem por isso a qualidade do aprendizado foi menor.

A questão da valorização de professores passa por Plano de Carreira, passa pelo pagamento em dia e pela formação continuada. Há muito tempo eu estive dando aula na rede pública, onde eu dava aula para jovens em situação de vulnerabilidade social e esse é perfil que eu mais gosto de dar aula mostrando que a educação liberta e traz outros rumos. E para mim foi muito gratificante quando eu encontrei, anos depois, duas alunas da minha primeira turma fazendo graduação.

Eu acho que a estrutura física é fundamental, como apontou Juliano Roso sobre as escolas, essa não é uma realidade apenas do nosso município, mas do estado inteiro. Escolas sucateadas, escolas com problemas estruturais, com problemas de materiais aonde o professor nem sequer um Datashow para exibir algum vídeo.

Gostaria de fazer um destaque que passa despercebido ou que é aquele discurso ensaiado, para acabar de vez com a educação pública, que é a questão das escolas de órgãos militares. É pregado que essas escolas trazem a excelência em ensino, porque tem disciplina, rigidez, ética, moral e bons costumes… Só que na verdade se a gente for analisar todas as escolas militares tem um custo médio por aluno anual de 19 mil reais e os alunos das escolas estaduais normal não chegam a R$6mil.

Então queria dizer que dizer que essa diferença de excelência de ensino se dá somente pela qualidade, pela rigidez, pela ética e bons costumes não é verdade, simplesmente comprova o que todos nós aqui sabemos que sem investimentos não se faz educação de qualidade.

É dever de todo parlamentar, de todo executivo, prestar mais atenção nisso valorizando os professores, tendo um plano de carreira adequado e de formação continuada”.

 

Mari dos Santos (PT)

“Obrigada pela oportunidade de dialogar sobre um assunto tão importante. Eu quero dizer pra vocês que eu vou me pautar, na minha fala, pelo programa de governo o qual eu defendo. Porque pra mim é princípio que cada um de nós traz consigo não somente sua vontade pessoal quando candidato ou quando eleito, mas sim defendemos um programa de governo.

Baseado em tudo que foi dito aqui, a gente ouve as estatísticas e os dados em que se comprova cada vez mais aquilo que a gente já sabe que está acontecendo no Rio Grande do Sul. Mas é bom que neste momento admitamos que o estado, assim como o país, passa por um momento de crise.

Se não admitirmos que passamos por um momento de crise financeira nós também não vamos buscar saída para os problemas que estão acontecendo no estado, assim como no país. É claro que cada governo traz consigo as suas prioridades, então a gente diz que o atual governo do estado do RS não tem na sua prioridade a educação, quando deixa de pagar em dia os professores e profissionais da educação essa pasta não é prioridade.

A gente sabe que existe a crise, admite a crise e os salários dos professores estaduais estão sendo pagos no mês, portanto o que mudou foi a data do pagamento. Ou seja, se prioriza pagar outras coisas antes para depois pagar os profissionais da educação. Mas eu vou me reportar aqui ao programa de governo do Haddad, que traz questões que eu considero importantes, como o custo aluno/qualidade, que pretende estabelecer um valor por aluno que signifique a possibilidade de uma educação de qualidade, por isso é preciso retomar o índice de investimento de 10% do PIB na educação (que está em cerca de 6% hoje).

Outro programa importante é o Ensino Médio federal, um programa a nível de União, que é um convênio que o estado pode estabelecer com a União para poder ter do governo federal a infraestrutura”.

 

Eduardo Peliciolli (Podemos)

“Agradeço o convite e a presença de todos neste momento importante. Quando falamos de educação sabemos que é o caminho para mudarmos a sociedade. Quando comecei a engatinhar na campanha um dos primeiros lugares que marquei agenda, para ir mais como ouvinte do que para falar, foi o CMP Sindicato. Fomos ouvir dos professores quais as suas demandas. Apesar de ter conhecido as escolas do município e da região durante a vereança ou quando acompanhei um candidato pela região do Alto Uruguai.

Vocês sabem muito bem que a cada discurso, de cada político, nunca ninguém vai dizer que é contra a educação. Nunca ninguém vai dizer que é contra investimentos, todos sempre vão dizer que os professores tem que ser valorizados. Mas eu troco o discurso pela prática.

Quando estive na Câmara de Vereadores fui presidente da CEBES, comissão que discutia a educação, auxiliei na construção do Plano Municipal de Educação e todas as suas diretrizes e metas. E ali sim nós temos um documento que fala da educação municipal, e tem o documento a nível estadual e da União.

E essas diretrizes e metas, na verdade, não são cumpridas no município, no estado e muito menos na União. Estamos muito aquém de chegar a uma educação pública de qualidade. E quando a gente faz essa reflexão percebemos quem são as pessoas que vendem um produto e entregam outro.

Sou autor da Lei 5023/2013 da qual me orgulho muito, que cria um programa de acesso à educação infantil e garante a criança de 4 meses a cinco anos escola infantil em turno integral. Até hoje nós temos que batalhar na justiça para cada criança ter acesso à Educação Infantil em turno integral.

E ai me pergunto, se temos lei porque ela não é cumprida? Eu também não sei. Quando foi aprovada pela Câmara o entendimento era de que os vereadores compreendiam sua importância, por mais que não foi aprovada pela maioria. Quando o prefeito e vice assinaram eles entendiam que devia ser cumprida, pois era seu programa de governo. E hoje não é cumprida, são centenas de vagas garantidas através da justiça.

Como tem muitas coisas que não são cumpridas com o CMP Sindicato, com o CPERS, que são prometias em época de campanha. Para termos uma educação de qualidade e com infraestrutura necessária para o professor trabalhar, quem representa a educação e os professores tem que ter compromisso e também tem que fazer. Não tem que ter discurso que não é cumprido.”

 

José Carlos Carles de Souza (PSD)

“Saudação a todos e a UPF pela iniciativa de promover um debate de tema tão instigante. Falar dos rumos da educação no RS tem que ser com o protagonismo, sim, de uma grande instituição de ensino. Eu vou trazer o exemplo que eu fui aluno de escola pública em duas escolas excepcionais. Poderia elencar aqui várias escolas que tem notoriedade, escolas públicas que produzem excelentes resultados para os seus alunos.

Mas o que essas escolas tem de diferente? Tem o compromisso com a sociedade. Quero dizer então que eu entendo que uma escola de qualidade tem que ser compromisso da sociedade, mas da sociedade como um todo, não do governo de plantão. A escola tem que servir a sociedade por aquilo que a sociedade espera dela.

Precisa ser estruturada, é verdade, tem que ter uma boa infraestrutura sim, tem que ser dotada de todas as condições necessárias, precisa ter o corpo docente muito qualificado. Nós precisamos de professores valorizados não somente na remuneração, mas de professores reconhecidos pela sociedade pelo papel que desempenham.

Isso vai efetivamente criar a retomada da escola pública. Na medida em que a sociedade entende o papel dessa escola na formação do cidadão. Nós estamos cada vez mais perdendo espaço na sociedade porque ela se omite, lamentavelmente. Não compra as brigas que deveria comprar no bom sentido. Aliás a sociedade gaúcha está acostumada a grandes batalhas, a atos heroicos, revoluções, mas a grande revolução a sociedade gaúcha ainda não fez: que é a revolução pela educação!

Essa não precisa de armas, precisa sim de professores. Precisa de pessoas comprometidas com a educação para poder reverter esse quadro de dificuldades que está aí. Uma escola de qualidade e para retomar o seu protagonismo precisa de um projeto pedagógico eficiente, eficaz, um projeto coerente de acordo com o momento que a sociedade passa e não algo pensado por meia dúzia de tecnólogos que se acham arautos do saber para dizer o que precisa na escola. Nós precisamos como sociedade nos posicionarmos frente a esse tema tão importante a todos nós”.

 

Airton Lângaro Dipp (PDT)

“Saudando os organizadores, UPF e DCE, cumprimento todos os presentes. O fortalecimento da educação tem que passar, de fato, por uma discussão muito profunda com os nosso professores, que tem o conhecimento, especialmente os das escolas públicas.

Eu não sou professor, mas com a minha experiência como prefeito de Passo Fundo eu posso contribuir nesta discussão do fortalecimento do ensino público estadual e municipal. Nós tivemos uma caminhada de três mandatos de fortalecimento de Plano de Carreira, avanços que são fundamentais para os nossos professores, a discussão da formação continuada permanente, na PMPF, e tive sempre uma posição aberta e democrática da discussão para os nosso professores.  Tanto que os avanços foram significativos e a remuneração dos professores municipais estava num nível que somente Passo Fundo e Canoas tinham as maiores remunerações do estado do RS, muito acima do piso nacional.

Os investimentos tem que ser feitos na infraestrutura, nos equipamentos, na valorização dos professores… Mas eu quero observar duas situações que são fundamentais: políticas de estado na educação, e não políticas de governo, e o ponto principal além das vinculações constitucionais dos orçamentos do município, do estado e da União que são previstos na constituição, eu sou inteiramente favorável e vou lutar na Assembleia Legislativa para vinculações de receitas para a educação e para a saúde. Com a minha experiência como gestor sabemos que quanto mais se vincular (para educação e saúde, não para infraestrutura ou outros setores) é essencial.

Estava sendo discutido no Congresso Nacional a questão do Pré-Sal. Isso está indo água a baixo e são recursos extraordinários que tem que ser vinculados, pois recursos vinculados ninguém pode desviar e vai depender do gestor sua aplicação.”

 

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