Aldeia Educação

André Rossi Canals é professor e escritor, autor de Escolas Esparsas e organizador da Coletânea de Crônicas 2017 pelo Projeto Passo Fundo; participa de Antologias de Poesias e Contos

Acorda pesado naquela manhã quando a Lua some no poente. O sono não foi reparador, virou-se muitas vezes na rede. Seus olhos pareciam impregnados de areia. Espreguiça-se antes de levantar.

No meio da manhã, Cacique Aldino estranha seus pensamentos, quando senta num toco em frente ao seu casebre e fica surpreso com sua dedução. Seu povo não era mais o mesmo desde a chegada dos homens engravatados e perfumados. Trouxeram muitos artefatos coloridos e perfumados.

Antes, a comunidade era feliz, todos se alimentavam bem, os curumins aprendiam, o pajé era sábio e todos eram muito gratos ao Meio Ambiente. Agora, tudo é diferente: a alegria natural foi embora porque se divertem com revistas coloridas e com aparelhos luminosos. Dedilham as caixinhas chatas que trocam de cor muito rápido. As revistas são bonitas, por mais que não conseguem ler todas as palavras, mas ficam sonâmbulos ao folhearem-nas. Entretanto, não querem mais ir à escola e não escrevem mais. São barulhentos quando o professor necessita passar os conteúdos, não perguntam mais e demonstram desinteresse.

Os jovens passam os dedos nos tabletes sedutores toda hora. Riem muito com os olhos vidrados e, surdos, não respondem uma palavra a ninguém. Tornaram-se estranhos, amigos dos homens da cidade e recebem convites para ir aos centros mudar de vida e ganhar muito dinheiro. Agradecem os presentes modernos com muita cordialidade. Muitos aceitam abandonar suas tribos, ficam seduzidos e deixam suas famílias chorosas.

Aldino não vê futuro para seu povo. Sua gente não tem mais vida, todos estão moribundos, vivem sonolentos e indiferentes a tudo. O que ele pode fazer? Viver como um deles? Eram seus, mas não pode mais viver como um deles. Ninguém lhe ouve, como falar-lhes, então? Sua voz é solitária naqueles dias.

Numa noite de Lua cheia, depressivo, toma a direção da floresta e não volta mais.

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