De que mundo do trabalho estamos falando?
Sobre o mundo do trabalho pairam mais dúvidas do que certezas: um ambiente cada vez mais precarizado e sem proteção de direitos provoca grandes preocupações em todos os trabalhadores e trabalhadoras. Qual é o futuro do trabalho em tempos de duros ataques aos direitos trabalhistas? Em tempos que se propõe a extinção do Ministério do Trabalho e da Justiça do Trabalho, como pensar o mundo do trabalho? Qual é o futuro do trabalho dos profissionais da educação?
Convidado para ministrar a segunda Ciranda dos Saberes de 2019, realizada no último dia 23, o advogado e professor da área trabalhista Ipojucan Demétrius Vecchi refletiu e dialogou com os professores sobre como pensar a resistência da luta dos trabalhadores, em especial neste período em que os próprios sindicatos estão fragilizados na sua representação e são duramente atacados pelo governo e parte da sociedade. “Nós vivemos numa encruzilhada histórica, com a quarta revolução industrial chegando, em que ou nós alteramos a forma de produzir e o modo de vivermos ou essa forma nos engole. Se nós não atuarmos para alterar as coisas a tendência é a barbárie. Então cabe a nós alterar este cenário,” ´pontua o advogado.
O advogado ponderou ainda acerca da necessidade insuperável por parte do capital de sugar trabalho vivo, de sugar força de trabalho (capacidade de trabalho: composta de sangue, nervos, ossos, músculos, cérebro, do trabalho vivo, que recebe salário como pagamento desta força de trabalho e não do trabalho) para gerar a riqueza específica da sociedade burguesa, o valor.
Citando autores como Reinaldo Carcanholo, Tarso Genro, Karl Marx, Ricardo Antunes, Friedrich Engels, Virgínia Fontes,entre outros, Ipojucan pensou com as professoras sobre o capital, o sistema capitalista, a riqueza, a força de trabalho, modos de produção e a exploração.
“Será que o trabalho realmente dignifica o ser humano? Qual trabalho? Em que condições? O trabalho humano, considerado em si -abstraído de seus condicionantes histórico-sociais- é uma mediação necessária para a existência humana. A noção antiga de trabalho é dor, é sofrimento, pois quem trabalhava era o escravo. Portanto o trabalho era uma coisa lá no regime escravista antigo, outra coisa no momento feudal e é outra coisa no modo de produção capitalista, que é como nós vivemos,” considera o professor.
Ciranda dos Saberes
As Cirandas sempre propõem temas da atualidade, em que se convida um Cirandeiro ou Cirandeira (pessoa que domina determinado assunto) e que tem a função de provocar os debates e as trocas durante a primeira meia hora. Essa exposição não usa recursos visuais ou conteúdos projetados, somente conversação. Logo após, abrem-se oportunidades para cada participante interagir, perguntar, propor, expor seus pontos de vista e suas experiências relacionadas com o tema, mediados por um coordenador da atividade.
Saberes em Ciranda é uma criação do Sindicato dos Professores Municipais de Passo Fundo (CMP Sindicato), que entende que a melhor formação de professores é aquela feita de professor para professor, aquela formação que promova o diálogo, a participação e as trocas de experiências entre os docentes. Mais duas Cirandas acontecerão durante o ano: no dia 4 de setembro o CMP recebe a psicóloga Sara Vassoler para falar sobre o bem-estar docente e no dia 30 de outubro o Cientista Social e professor da UPF Glauco Ludwig Araújo fala sobre a educação no país das desigualdades.