Perguntas na BNCC

Fabiano Barcellos Teixeira – professor da rede municipal de Passo Fundo, graduado em História, com mestrado e doutorado também em História

“Não são as respostas, mas as perguntas que movem o mundo”, dizia uma sábia vinheta de propaganda do canal Futura. Em documento elaborado nos três últimos anos sobre as diretrizes curriculares para a educação básica no Brasil, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) destaca-se que, para o ensino de história no ensino fundamental, anos finais (6º ao 9º ano, em média estudantes de 11 a 14 anos), o processo de ensino e aprendizagem deve se desenvolver pelo “reconhecimento e pela interpretação de diferentes versões de um mesmo fenômeno, reconhecendo as hipóteses e avaliando os argumentos apresentados com vistas ao desenvolvimento de habilidades necessárias para a elaboração de proposições próprias.” Assim, toma-se como exemplo a “Guerra do Paraguai (1864-1870)”.

Na BNCC, assinala-se que seriam “evidentes” e até mesmo “justificáveis as diferenças do olhar brasileiro e do olhar paraguaio sobre ela [a Guerra do Paraguai]”. Segue-se afirmando que, como “símbolo da vitória”, os “brasileiros” trouxeram para o seu território um troféu de guerra, o canhão cristiano [cristão], feito com os sinos derretidos de igrejas do país vizinho, derrotado na guerra. Hoje, o artefato integra o acervo do Museu Histórico do Rio de Janeiro.

Na sequência do texto, questiona-se: “Qual é a relação entre esse objeto e a soberania nacional? Por que o canhão não foi devolvido apesar das inúmeras solicitações do governo paraguaio? O que ele significava ontem? E o que significa hoje? Interpretações podem ser elaboradas em diferentes linguagens? Como? Uma guerra pode ser descrita por meio da enumeração das razões do conflito, da descrição e quantificação das armas utilizadas no campo de batalha ou, ainda, por meio de um único símbolo. Canhões, tanques, drones ou mesmo facas: o que esses objetos podem significar em uma análise histórica?”

O referencial do Ministério da Educação assinala a importância de produzir questionamentos para construir uma consistente análise. Perfeito. No entanto, ao justificar as diferenças entre os “olhares” brasileiros e paraguaios, um século e meio após o conflito, esquece-se das noções básicas das ciências que devem buscar superar visões nacionais. A História é a ciência que estuda humanidade ao longo do tempo através da interpretação de fontes. Não é a leitura de um país contra o outro. A BNCC é um documento de grande importância, temos de conhecê-la, usá-la e criticá-la. Qual é a nossa Base?

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