Trabalho docente X Desafios do local de trabalho

Mais de mil professores participaram da atividade que discutiu a saúde da categoria

Buscado discutir o fato de que a profissão docente ocupa os primeiros lugares do ranking de profissionais que adoecem em virtude do trabalho, o V Congresso dos Professores Municipais de Passo Fundo reuniu centenas de docentes nesta quinta-feira (23).

Com o tema “Saúde do Professor: desafios e possibilidades” a atividade promovida pelo Sindicato dos Professores Municipais –CMP Sindicato-, que aconteceu nos turnos da manhã e tarde, trouxe estudiosas do assunto para refletir com a categoria maneiras de transformar essa dura realidade.

O Congresso ainda serviu de palco para o lançamento do projeto “Promoção do Bem-Estar Docente,” uma parceria entre Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, o Sindicato dos Professores Municipais de Passo Fundo (CMP Sindicato), a 7ª Coordenadoria Regional de Educação, a 6ª Coordenadoria Regional de Saúde (Ceae), a Prefeitura Municipal de Passo Fundo, o Sindicato dos Professores do Ensino Privado e a Faculdade Meridional (Imed).

A idealização do projeto “Promoção do bem-estar docente” surgiu na perspectiva de que a saúde do professor é um assunto que vem adquirindo crescente relevância científica, uma vez que essa é uma profissão fundamental para a formação do ser humano e da sociedade. O projeto incluirá os professores da rede pública e privada, atuantes no Município de Passo Fundo.

A promotora Ana Cristina Ferrarezi, representando a Promotoria Regional de Educação do RS em Passo Fundo, lembrou que o projeto foi uma construção de várias mãos e que o Ministério Público trabalha há algum tempo em cima da temática. Para ela o projeto é resultado do empenho de vários setores que buscam amenizar o problema dos afastamentos dos docentes de forma a potencializar não somente a promoção de saúde destes profissionais, como potencializar a qualidade da educação.

O psicólogo do Núcleo de Biometria da Administração Municipal Mário Junges aponta que o projeto foi pensado em parceria nas três instâncias da educação e que, embora tenha surgido para questões de saúde mental, a intenção é ter uma abrangência maior, como em questões ligadas à voz e alimentação saudável, por exemplo. “Pensar a saúde de uma forma integral e não pontuar somente uma questão relacionada ao adoecimento” diz.

A dirigente do CMP Sindicato Regina Costa dos Santos pontua que a discussão é necessária e que a temática do Congresso é pertinente para o momento. Lembra que os professores municipais participaram massivamente das discussões e mobilizações realizadas no município em um momento histórico decisivo.

A comissão responsável pela elaboração do projeto tem como objetivo realizar ações interventivas e preventivas de promoção à saúde integral dos docentes das redes municipal, estadual e privada, do município de Passo Fundo. Isso deve acontecer através de trabalhos de conscientização acerca da importância transformadora do professor, oportunizando espaços que promovam o cuidado à saúde física e mental dos professores e sensibilizando o poder público quanto à importância de políticas públicas voltadas à saúde do professor.

Um olhar para a saúde do professor

Após o lançamento do projeto os professores puderam contar com a mesa redonda que discutiu “Um olhar para a saúde do professor” e contou com as convidadas Amanda Macaia e Jussara Mendes. No turno da tarde as palestrantes deram segmento às discussões na Mesa Redonda “Trabalho docente X Local de trabalho: riscos e possibilidades”.

Terapeuta ocupacional, Mestre em Saúde Pública e Doutora em Ciências pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Amanda destaca que o contexto é de mudanças políticas e econômicas que tangenciam ou envolvem diretamente as condições de trabalho e saúde da população hoje e no futuro.

A pesquisadora em Saúde do Trabalhador evidencia que é possível vislumbrar cenários negativos, distantes do que se está construindo mesmo com diversas críticas a respeito. Destaca que é de extrema importância discutir, além dos afastamentos, o retorno do professor ao seu local de trabalho.

“Muitas vezes o professor acaba tendo que voltar ao trabalho sem que o espaço busque mudar aquilo que causou o adoecimento e isso coloca em risco não só o seu desempenho do profissional, como a sua saúde como um todo. Não basta pensar somente a doença, é necessário pensar as causas e condições. Somente analisando o todo é possível alcançar avanços,” afirma Macaia, que encerra com o questionamento “Será que é só professor que tem a ver com isso?”.

Jussara Maria Rosa Mendes Doutora em Serviço Social pela PUCSP e pós doutora em Serviço Social pela Universität Kassel é a segunda convidada a compor os espaços de discussão da atividade. Jussara tem diversas pesquisas e produções acadêmicas acerca do tema e aponta em seus estudos elementos que historicamente vêm norteando o debate sobre o trabalho e a saúde, expressando avanços e contradições na área da saúde do trabalhador.

“A saúde deve ser uma necessidade social urgente! É necessário ouvir os docentes do seu processo, ampliar os debates com a categoria, falar sobre controle social, segurança e saúde do trabalho. Quem atende a saúde do professor? Nestas discussões, hoje, o sindicato faz a sua parte. Mas é preciso pensar com seriedade neste contexto e buscar por soluções,” ressalta.

A dirigente do CMP Sindicato Regina Costa dos Santos destaca que essa edição da atividade, que já acontece desde 2014, teve como objetivo refletir sobre fatores que colocam em riscos e agravam a saúde dos professores e de construir expectativas a partir do evento, que apontem caminhos para avançar na construção de estratégias de políticas públicas de saúde para os docentes. “É preciso repensar a organização do trabalho e as relações na escola, dando melhor condições materiais e humanas de desenvolver a docência, com salários dignos onde o professor não precise trabalhar 60 horas para garantir seu sustento. Nossos professores merecem serem cuidados e respeitados pela sociedade e pelos governantes,” afirma.

Atividades diferenciadas marcaram Congresso

Em meio à formação proporcionada pelos convidados da 5ª edição do Congresso os professores puderam contar com momentos de relaxamento e exercícios que deixaram o clima mais descontraído. A entidade contou com a parceria da professora Vera Mondin, da fonoaudióloga Caroline Rondebusch, da professora de yoga Marta Samonek, da professora e artista Cami Santos e do Grupo Alforria. O V Congresso dos Professores Municipais ainda contou com o patrocínio de Cia Do Sono, Lojas Cacau, Ótica Aline, Magrass, Oral Sin Implantes Odontológicos, Faculdade São Luiz e Rodrigo Bastos Cabeleireiro.

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