Educação para a vida em abundância
A educação tem referências antropológicas que lhe servem de ancoragem, ou seja, tem bases nas quais se articula a paragem de sujeitos itinerantes, que fazem caminhos. Elas oferecem condições para que a humanização se realize nos processos que visam formar sujeitos. Entre outras possíveis, seguem algumas.
A itinerância: seres humanos estão em caminhos de busca. Múltiplas são as buscas humanas: há as cognitivas, que pretendem a verdade; há as éticas, que pretendem o bem-viver; há as políticas, que pretendem o com-viver; há as estéticas, que pretendem a beleza; há as espirituais, que pretendem o religioso. Buscas… buscas… Humanos são seres nômades, peregrinos, migrantes, que buscam a si mesmos e aos outros, por isso abertos e em diálogo!
A inconclusão: seres humanos são conscientes de seu inacabamento. Sabem que seu ser é um fazer-se na relação com os outros em contextos histórico-culturais. Sua humanização não é um estágio a ser atingido, e sim uma condição a ser cada vez, de novo, retomada.
É um projeto: humanos estão em humanização! Daí a historicidade, não como mera contingência, mas como possibilidade de ultrapassar heranças recebidas, sem desprezá-las, em vista de aproximar-se dos horizontes que vêm do esperançar que vocaciona o humano a experimentar-se Ser Mais.
A liberdade: seres humanos desejam ser livres, ser por si mesmos, responder pelo que fazem de si mesmos, do que fazem com o que os outros fazem deles, do que fazem com os outros. A emancipação e a autonomia são construções que se fazem na interação e, portanto, são conquistas, afastando-se de paternalismos e de falsas tutelas. Fazer-se livres é saber-se sujeito pluridimensional (em termos cognitivos, intelectuais, espirituais, afetivos, emocionais, morais, sexuais …), sempre em construção, inserido na realidade, aberto ao chamado para ser mais humano com os outros humanos, sendo agente da realização de mais humanização.
Atenção, seres humanos não vivem de modo idêntico e homogêneo sua humanidade. Há humanos que são desumanizados e despotenciados por processos de opressão e de vitimização de sua condição humana, de sua dignidade. Mas, isso não os faz perder sua humanidade. Pelo contrário, enseja o grito para empreender processos de transformação. A educação é um dos bons caminhos para tal, mesmo que não seja o único.
A ancoragem antropológica da educação exige que sejam denunciadas todas as práticas de desumanização e que sejam anunciadas as possibilidades e aberturas. A morte, presente na pobreza, no sofrimento, na ex-clusão, no abandono, não é a última palavra. A palavra final é vida – não vida apenas, vida nua, simples vida, zoé – e vida em abundância! A boa educação, aquela que vale a pena é a que promove vida em abundância para todas e todos.